Lá se vão minhas emoções. Móveis velhos e roídos, quebrados e gastos. Eu já não poderia arcar com essas despesas que me trazem ao toca-los. Acaba por ser melhor assim. Deixe que vão definhar e decompor essa madeira de tantas histórias em um outro lugar, onde de preferencia não liguem para isso…
Agora se vão as paredes. Por muito tempo sonhei serem minhas peles: duras, firmes e resistentes. Vento nenhum me derrubaria e muita água passaria por mim… Não ligaria se as marcas ficassem visíveis com o tempo. O concreto seria concreto se conseguisse prender as emoções como durante todos esses anos prendeu fielmente os móveis.
De repente já não vejo mais casa. Eu já não me vejo e a escritura está rasgada. Nada é mais meu, nem mesmo eu, que sempre pensei ser meu, sou. Coração em pedaços de pecado picados e de letras miúdas. Desabo sobre a terra com minhas emoções e minhas peles. Móveis, paredes e papel. Eu, um pedaço de terra ou de céu.
Por Carlos Fernando Rodrigues S.S.D.