terça-feira, 30 de julho de 2013

Inconsciência

Persistência da memória, a qual aflige meu ego.
Insistência da pura interferência no meu eco.
Ressonante, dissonante, perversa.
Sem estar em meus pensamentos, sem pressa.
Ela espera, ao anoitecer, para minha sorte desfazer.

Na minha cama, ao meu lado, na minha frente.
Ela se faz presente, não está. Estão apenas palavras.
Ditas, desditas, descritas. Despista minha mente.
Seca, antes era úmida. Fria, antes era quente.

Intrépido, embarco em meu inconsciente.
Dislexo, embalo meu cérebro impotente.
Morbidez aparente, à minha frente, um encontro.
Como se estivesse pronto, vejo o que se sente.
Impossibilidade de materialização inerente.

Como era de se retornar ao passado, uma tarde.
Tarde triste da noite a encontro, às escuras.
Primeira, única, finalmente, incômoda… vez.
Sonho ou realidade, o inconsciente a florescer.

Por Carlos Fernando Rodrigues

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Fico

Quem me dera ser fadado à doce ingenuidade da loucura.
Não ser fardado de racional, puramente emocional, sem cura.
Perdura em meu ser o passado, que agora chega atrasado.
Sem qualquer ternura, meu próprio eu, para sempre me julgará culpado.
Desgraçado, não soube nem ser rechaçado, e fica aí parado.
Retardado, não soube ser amado, e agora está aí, desolado.
Qual inércia é mais cruel do que esta?
Me rouba de mim, me entrega assim, sem ao menos dominar o fim.
O quanto é cruel a vida, a qual já não me interessa.
Uma qualquer coisa que me testa, sem permissão ou razão.
Sem ação, apenas emoção, me defronto com a minha própria destruição.
Agoniza meu espírito, fere a si próprio feridas impróprias.
Já não há resto de mundo. Não há porque ter, que dirá viver.
Morrer em martirização de amor é belo, porém. indolor.
Eu fico. Parado. Encharcado. Abandonado. Derrotado.
Se é para a infelicidade total do coração, diga que eu fico.

Por Carlos Fernando Rodrigues

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Libertas

     Todo homem tende a nascer livre. Livre para viver o suficiente a ponto de se prender ao mundo. Toda e qualquer tentativa de fuga deste desígnio, seja ele social ou natural, é imediatamente rechaçada. Todo ser humano tende a nascer livre. Mas ele realmente se faz livre ou seria a liberdade uma utopia de seres encarcerados em uma natureza na qual são incapazes de se tornarem fugitivos?
     A ideia fundante da liberdade parte da independência, porém a independência humana nunca é plena, uma vez que somos mamíferos heterótrofos sexuados e sociais por excelência. Ainda assim almejamos a independência, e com ela, a liberdade. Ora, se não somos nem ao menos verdadeiramente independentes, como podemos vislumbrar a liberdade de nossos atos?
    A socialização humana é um processo há muito estudado, porém devido a complexidade e variabilidade de suas possibilidades, pouco se sabe o que leva o ser humano a se associar e principalmente se desassociar de outros. A explicação básica partiria de instintos e impulsos que dão uma ideia demasiadamente simplória para o presente contexto humano, entrelaçado em relações sociais cada vez mais complexas. Obviamente que a profundidade destas compete a cada indivíduo, mas seria essa ideia vaga nosso única parcela de liberdade?
      O apogeu de nossa liberdade é quando viemos a esse mundo, quando temos a oportunidade única de gritar e extrair tudo aquilo que nos aflige, ainda assim estamos submetidos a Ordem Natural nesse momento, a partir de então começamos a ser moldados dentro de nosso meio social. A sociedade de fato nos submete a processos para a formação de indivíduos coerentes a suas necessidades, o que simplifica a possibilidade de escolha, simplesmente por não termos escolha. Somos fruto do meio em que estamos inseridos e nossa única liberdade é a de escolher a que iremos nos prender.
      Sendo dessa forma, entramos aparentemente em um paradoxo que não prevê a libertação do ser. Porém, ainda inseridos nessa questão, notamos que a opção por determinada prisão pode ser benéfica, maléfica ou indiferente ao ser humano. A impossibilidade física da contenção dos nossos pensamentos faz com que esta seja talvez a única forma de se prender a algo que de fato o liberte. Este sim é capaz de nos tornar seres capazes de almejar a independência e a liberdade. Livre dos mecanismos perversos de dominação pelo capital, pela mídia, pelas drogas e até mesmo pelo pensamento alheio, a mente humana é plenamente capaz de se libertar sem limitações físicas e cognitivas. Liberte-se... ou dê a sorte de amar.

Por Carlos Fernando Rodrigues

terça-feira, 9 de julho de 2013

Apagar

Breve momento de ambição minha
teimar em escrever essa poesia.
Pressão interna que se externa
pra rimar qualquer coisa na pressa.
Como antes era a vida,
como antes era melancólica.
Uma coisa diabólica.
Uma qualquer coisa escorrida.

Ser somente reflexo de mundo,
o mundo inverso em verso,
o verdadeiro mundo de perto.
Incerto coração vagabundo.
sem sentido, à procura de teto
para ser um qualquer moribundo.

Graves pecados atenuantes para ser
quase ateu o pobre querer do ser.
Ambição de qualquer bondade por fazer,
e acabar lhe fazendo ler e crer
em uma bobagem qualquer que escrever.
Sem escrito, uma sentida a morrer.

Quase termino a duvidar do quando.
Será hora de acordar e acabar?
Chegar agora para poder partir.
Apagar a luz para não me confundir.
Humanas subversões de seres qualquer.
Seres discretos em particulares escuridões.

Por Carlos Fernando Rodrigues