quarta-feira, 29 de maio de 2013

Carvoeiro (e um viva a mediocridade)

De risco no céu aflito, cai em chuva.
Arisco e veloz, no fogo da água, um pito.
Corre curisco acendendo o céu em curva.

Ponto incerto, por perto o trovão no chão.
Não faz mira, se atira em, agora, resto de carvão.
Era homem. Ou perto disso. Era escória.
Um pouco papel no bolso e muita história.
Era vivo. Já não é mais. É natureza.
Foi dela uma nobre presa. Dela acesa.

Chovia nele, ou nela, neles. Encharcava a alma.
Presa em paixão, embebido de rum, envasando o alcatrão.
Na chuva, se limpava. Se apagava. Se deixava.
Veio à vida ascender, mas ao acende-lo.
Um raio fugido, nem tão fúlgido, acompanhou-o.
Um caroneiro inerte, um carcereiro rebelde.

Libertou-o da prisão que era a vida, mórbida.
Vívido pela primeira vez, em luz, cheio de combustível,
pela sua fumaça tomado, agora seu corpo tinha uma razão.
Infalivelmente, agora, poderia ser um soberbo carvão.

Por Carlos Fernando Rodrigues

sábado, 18 de maio de 2013

Em fé

Fé, pois a fé é inerente.
Te-la, verdadeiramente crente.
Em fé, temos fé, não por nós,
mas fé apenas no após.

O momento sem fé, a pé,
andar em sua companhia.
Ser criados por homens de fé,
a balbuciar ditados sem bainha.
Rasgam verbos sofisticados,
do princípio, o Verbo desgastado.
Derrotado, o vício de querer crer,
achincalhado pelo homem em seu poder.

Fé no após, que se dane o momento.
Fé no momento, que se inflame o após.
Ter fé no momento é buscar o inferno.
Mas viver em fé, é encontra-lo de perto.

Não consigo ver no que crer.
Creio em pessoas, sem querer.
Creio em matéria, sem poder.
Ter fé seria, no futuro, em paraíso viver
ou na Terra do fruto apodrecer?
Acenda meu fogo, deixe minha chama arder.
Em minha humanidades, sem tais divindades,
posso e farei, do meu inferno, meu paraíso.

Por Carlos Fernando Rodrigues

terça-feira, 7 de maio de 2013

In formação

Uma parada para a vida, sem emoção,
sem querer saber de razão de capa surrada.
Espaço em branco novo, com cheiro de mofo.
Contemplando sonhos poucos, simples,
pela revolução de tolos em parágrafos ocos.

Desenhando em letras guerras de palavras, iguais e livres.
Velhas tipografias sem novas ideologias.
E essa  revolução, sentada lendo-se em crimes.
De interesse, nenhum, somente vigília.

Uma crônica quer aliviar o dia, quer até ser poesia.
Não seria hora de hipocrisia, pra quê quebrar a monotonia?
Mas para seu valor, o ócio nunca foi um bom negócio.
Ficou na apatia das notícias frias.

Frio era o resto de café, gritava a xícara.
Anunciava as migalhas de pão, jogadas no chão.
O papel continuou vazio, cheio de letrinhas,
prendeu quem o largou nas malditas entrelinhas.

Por Carlos Fernando Rodrigues