segunda-feira, 8 de abril de 2013

Sobre nada

Como falar de nada sem antes falar de tudo? São conceitos antônimos que se completam, porém nunca são completos. Dentre todos, ninguém é capaz de explicar ao certo o que é tudo, e nada no mundo consegue me esclarecer o que é nada. Sempre há algo, e algo nunca é tudo. Portanto, tudo e nada se completam em incertezas de quem são: ambos conceitos sobre coisas inexistentes.
Segundo o dicionário, o nada é nada. Simplesmente aquilo que não existe. Ora, mas se é aquilo que não existe, é alguma coisa. Já o tudo seria a totalidade das coisas. Como se tem a totalidade de alguma coisa se para isso é necessário que aquilo que não existe esteja inserido? Tem um nada no meio de tudo. Tudo precisa de nada para existir, mas se ele tem nada, ele não tem tudo. É complexo... mas é só uma ideia.
Adentrando na ideia de nada, concluí que tudo não existe. Não que tudo seja falso, mas é que tudo nunca será tudo. Não adianta querer tudo, nem ter tudo, nem fazer tudo. O problema é: o tudo precisa do nada para existir, mas e o nada, precisa do tudo para existir? É necessário que tudo exista para termos a ideia de nada, mas a ideia é uma abstração da mente só nela existe. Seria o nada só isso?
O nada é para mim o tudo. Mesmo depois de afirmar que o tudo não existe. Se ele não existe, ele é nada, e se ele é nada, ele tem que ser preenchido. O nada, nada mais é do que uma ideia de tudo dotada de criatividade própria, pois do nada surgem as melhores ideias, e nele morrem. O nada é o que inspira o homem a criar, as coisas não se completam por si mesmas se a partir do nada, não houver ação. O nada é o cenário onde a vida flui em sua maior intensidade, mesmo que ele nunca se complete. Como aquele papel em branco que vai se colorindo, desenhando e o tamanho real da obra é inversamente proporcional ao número de lugares aos quais ela pode te levar. O nada é que faz o ser humano ser humano. Nada salva, nada cura, nada vive, e graças ao nada, ocupamos esses espaços que ele nos propicia. Em verdade então te digo, tudo não existe. Nada existe. E se você, assim como eu, chegou à essa conclusão, é que sua ocupação momentânea é como o tudo...

Por Carlos Fernando Rodrigues

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Errante

Como um apagar de luzes,
o fim de sete cores no horizonte.
Como o último eco do som,
uma ponte cheia de tons.

Por fim, enfim, o fim. Simples.
Assim, aqui,  apenas pra mim.
O ouro estava lá, e ficou, ficaram.
Levou história, de dois que o amaram.

Passou a morte por debaixo da ponte,
a menina parte, mas já se foi há tempos.
Passou a música pelo fim da tarde,
da igreja no monte, à sorte se desfaz no vento.

Onde estará? Meu coração já não diz mais.
Sem porto, fechou sua porta,
debaixo da ponte, antes de ter um outro cais.

Errante em tons de cor, antigos tons de amor.
Tons de música pelo ar, sem me ter pelo sonhar.
Ando agora só, voltei acanhado, mas sem nó.
Vivo o agora, feliz pelos mares engarrafados.

Por Carlos Fernando Rodrigues