quinta-feira, 21 de abril de 2011

O Cangaceiro e o Coronel - Parte 3 "O Social"

       A cidade vivia agora tempos de mudança. Em plena estagnação política do Brasil, a sociedade novalimense pulsava novas ideias e ideais. Estava instalada ali a maior das rixas entre políticos que o pequeno município já vira.
       Nas classes mais baixas, os ideais marxistas tomavam conta dos pensamentos da população mais jovem e até mesmo dos mais velhos, apesar de certa resistência. Formou-se ali uma grande força ideológica dos trabalhadores e uma expressiva quantidade de votos em potencial.
       A mobilização do proletariado era assistida de longe pela classe dominante da sociedade. A elite não se deixava tocar pelos ideais igualitários do socialismo. A ideia de ditadura do proletariado gerava repulsa nos patrões, que não queriam de forma alguma se equivaler aos seus empregados. A ditadura agora chegava à economia, imposta pelos proprietários e comandantes aos construtores dos alicerces sociais, deixando de lado o lado humano do ser humano.
       Essa situação opressora gerou a necessidade da criação de uma força que agregasse toda a classe trabalhadora em torno de uma só luta, que atendesse a todos, de forma a criar uma alternativa à exploração burguesa sobre os operários. Como em uma coincidência, o destino já havia decidido quem comandaria essa força...

Continua.

Por Carlos Fernando Rodrigues

sábado, 16 de abril de 2011

O Cangaceiro e o Coronel - Parte 2 "A Mina"

       O garoto simples, de origem humilde que cresceu junto dos dois irmãos, sem os pais, não fazia ideia do fantástico futuro que o aguardava. Enquanto seu sonho seu sonho de trabalho se aprofundava nas minas, a política era arruinada em todo o país.
       Não foi fácil deixar a família para trás, afinal ele nunca vivera sem a atenção da irmã e a rebeldia da infância de João. Mas ele não tinha medo do trabalho, e talvez pelo senso de divisão e coletividade desenvolvido na sua vida humilde dentro de casa, sabia da importância da ética no convívio social.
       A cidade era simples, e como muitas outras do interior, tinha uma rua e uma praça onde pulsavam a vida social do município. De determinado ponto da rua principal, era possível ver a cidade afundar  na "boca" da mina para o seu coração econômico, de onde exauriam toda uma riqueza dourada, encharcada pelo suor dos trabalhadores que só podiam sair com tal metal dentro do peito, mas não por orgulho. Era um mundo a parte.
       Toda essa luta diária dos mineiros abriu espaço para uma corrente que ia na contramão da política não só da cidade, mas do país. Formava-se ali, no coração da cidade, o mais completo político de sua história. Um "Lampião" que não viera saquear dos inocentes, e sim matar antigas práticas que faziam com que a cidade permanecesse num estágio de espaço-tempo diferente do qual se passavam os anos que mudavam o mundo.
       Obviamente, tais ideais desagradavam fortemente os setores mais conservadores e ricos da sociedade, que quase como instinto, recorreram imediatamente ao seu maior aliado: O "todo poderoso" Coronel.

Continua.

Por Carlos Fernando Rodrigues

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Cangaceiro e o Coronel - Parte 1 "O Feudo"

       Moro em uma cidade pequena, que apesar de bem próxima da capital, se orgulha de manter sua vidinha pacata, tipicamente interiorana. É bem legal pensar que essa cidadezinha tem um riquíssimo folclore, que é passado de geração para geração.
       Apesar das histórias mais tradicionais não serem exatamente o que podemos chamar de recentes, a mais intrigante delas perdura feroz e voraz até os dias de hoje, e sabe-se lá quando vai terminar.
       Em meados da década de 1970, em pleno Regime Militar, a cidade assistia a ascensão de um Coronel. Mas não era um desses Coronéis que usam farda e são subordinados à um General. Esse "Coronel" parecia um pouco mais com aqueles mais antigos, era algo como uma fusão de "Sinhô" e burguês. Era, e continua sendo uma questão bem complexa na simples sociedade do pequeno município.
       O domínio político do "Coronel" nessas terras de ouro não evitou o monopólio quase que de regime escravista da mineração sobre os humildes e ingênuos trabalhadores do local. Quase como uma incógnita, não fosse pelos sabidos interesses em jogo, o governo figurava aliado da atividade, onde começou a cavar sua própria ruína.
       A expansão e aprofundamento da atividade mineradora na Mina Grande chamou a atenção de trabalhadores da área em todo o país, e do distante bairro de Neópolis, lá de Natal, a magra figura de um jovem técnico em mineração surge nos documentos de contratos da mineradora. Enquanto isso ele contempla o seu futuro no "sul", esperando a oportunidade de vencer na vida.
Continua.
Por Carlos Fernando Rodrigues


domingo, 10 de abril de 2011

Poemas Perdidos

Não se há de fazer mais
poemas tão belos
como aqueles que o poeta
não quis escrevê-los

Não estarão em cemitérios
nem em livros
e nem mesmo sequer
em qualquer mistério

Eles fogem e morrem
se estilhaçam
em um qualquer lugar
de eterno luar         


Por Carlos Fernando Rodrigues S.S.D.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Vício

Ócio que procura o ópio,
oficina sempre vazia
faz seu terror próprio,
diabos na cabeça fria.

Preguiça no vai e vem da rede
de onde brota a necessidade
que vai contra a parede
e ultrapassa a legalidade.

O pássaro me avisou
de todo seu amor.
Não poderia vir
e me deu sua flor.

Na estrada que me dá o céu,
eu encontro a serra.
Sob da neblina, véu,
abrigo do despertar da minha fera.

Meu ópio é o amor.
Amor que não vê ódio,
só vê amor.
Olha por cima da dor,
chega manso.
Desse eu não me canso.

Por Carlos Fernando Rodrigues  S.S.D.

Ponteiro

Quando quero
corro o tempo ao contrario.
Viro herói, vilão e cenário.
Quando não quero, o espero.

Ele não passa sem mim,
mas sem mim, ele tem fim.
Será tão complexo assim?

Dizem que ele é eterno,
turbilhão entre céu e inferno.
Eu não sou eterno
e sou dono do relógio,
que tal como o tempo e o terno,
não se usa sem propósito.

Quem nunca se perguntou
não sabe o que é ser humano
e não faz parte do plano
do tempo que passou.

Por Carlos Fernando Rodrigues S.S.D.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Perturbação

Ouve-se apenas silencio,
abstrato ser imenso,
de suave e intenso.

Quero ouvir-te em minha voz
e como do rio a foz,
que seja todo o fim
se tem que ser assim

Encripta escrita,
muito diz em nenhuma linha.
Faz do poeta pó
e nas palavras dá um nó.

Poemas notáveis
em produtos emocionados,
baboseiras em tamanhos exatos
do ser acomodado.

Tua grandeza não se mede,
muito menos ela se fala.
O sábio, sob ti cala.
Cerra o lábio, da razão, sede.

Por Carlos Fernando Rodrigues  S.S.D.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Verde antes

Veremos o sol
despontar no horizonte,
como os belos olhos verdes.
Ver bem de onde
queremos bem perto,
mas eles fogem espertos.

Pode ser tudo aquilo que palavras
não querem dizer, calmas e pequenas.
Palvras apenas, solitárias,
compondo nossa cena.

Luz serena ilumina
a lembrança plena.
A dúvida do ser,
ganhar ou perder.

Por Carlos Fernando Rodrigues  S.S.D.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Mixirico

       Ônibus é uma coisa complicada, curiosa. Quando menos se espera ele se torna uma coisa muito mais interessante do que parece, e apesar do "ensardinamento" dos coletivo urbanos nos dias atuais, podemos vivenciar momentos tão intrigantes quanto divertidos e peculiares.
       Um dia desses qualquer, numa dessas andanças que a gente faz sem objetivo absolutamente nenhum, apenas pra constar mais uma página vazia na memória, entrei numa lotação da Expresso Novalimense absolutamente vazia, não fosse pelo motorista, o trocador e um senhor. Sentei logo atrás desse senhor, ele tinha a aparência cansada, vestia uma camisa surrada, uma calça mais curta do que deveria, uma botina e carregava um saco de mixiricas.
        Durante alguns bons quinze minutos de viagem, tentei "tirar" um cochilo, quando percebi que os entediados carros "engarrafados" buzinavam mais renitentemente do que o normal. A desistência do sono veio quando comecei a observar mais atentamente aquele senhor que de repente, como um moleque travesso, atirou um bagaço "bem" mastigado de mixiricas em um carro que passava do lado do ônibus. Era absolutamente estranha aquela situação, um velho que se comportava como um menino, travesso e "ruão", e se divertia.
       Alguns bagaços e pontos depois, resolvi descer. Fiquei realmente "encucado", indignado e pensativo com aquela situação. Em dias de globalização, consciência e veneração da longevidade, vê-se no mundo crianças que não querem crescer, e vivem a melhor das idades em plena dignidade moral do ser, e apesar do politicamente incorreto, ainda tem o dom da sua própria diversão.

Por Carlos Fernando Rodrigues

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Fria Flor

Tudo que choveu não caía,
esperou até o apogeu.
Um momento fugaz
cortou-me sagaz.

A chuva não trazia vida.
Trazia morte. Suja.
Fecharam-me a saída,
e encontrei a dita cuja.

Matar a morte não é tarefa fácil.
Enquanto morria de véspera,
uma flor rosa forte,
da árvore do parque a minha espera,
me chamou. Gritou.

Ela era fria, insensível e banal.
Mas era bela,
cobria a dor carnal.

A chuva agora caía,
trazia as dores
que nem mesmo as flores
poderiam transformar em cores.

Por Carlos Fernando Rodrigues  S.S.D.

sábado, 2 de abril de 2011

Seu Meu

Pés cansados
transcendem a alma.
Deitados me mostram
o cansaço da calma.

Dorme querida minha.
Esquece a confusão.
Sonha, sozinha que o dia já clareou
e quando acordar, a confusão passou.

Não chora mais por mim,
enquanto eu choro por você.
Nunca vai ser assim,
do jeito que você vê.
Irreal, surreal e sem fim.

É seu sonho, que ainda não acordou.
Viu você e te agarrou.
Virou sua cabeça e seu coração,
e me deixou sem ação.

Vai-te, sobe no teu sonho.
Viaja pra onde quer
enquanto eu vou te ver,
mórbido ser tristonho.

Por Carlos Fernando Rodrigues  S.S.D.