quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Doutor Estranho

Eu não tenho conseguido desenhar. 

A arte não mais me chama. 

Pois chama é no meu coração agora.


Este que todo arranhado e cicatrizado

É colocado, destroçado, como moeda de troca. 

Submerso em bálsamo de ideias. Salgado em grafias de setembro. Impenetrável e frágil. 


Sonhos de cavalaria. 

Realidade de cavar a vala onde eu iria. 

Pois na vala, a cova, dos seus sorrisos, onde se encontram os últimos restos de mim. 


Cova do covarde do mundo, que uma vez em coragem, encontrou o fim. 

Se dispôs ao correto e enfim, foi. Sem rumo. Tiro certo no nada. Rompante em direção aos moinhos. 


Viu o que não viu e se foi. 

Embebido de paixões e sonhos que nunca foram seus. 

Em nobre missão para a qual não nasceu. 

Um resgate, fadado ao desgaste, de quem não o desejou e por isso o matou. 

Jantou, comeu e por lá, seu coração deixou. 


Ainda aguarda resgate de si próprio, 

Este que já não mais vem. 

Especta o mundo, agora a ser digerido vivo.

Em amores e dores que não são de si mesmo.

Mas daqueles contra os quais lutou e protegeu algo que nunca foi seu.

Por Carlos Fernando Rodrigues 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Caoticismo

           A vida nada mais é do que uma sequencia de imagens inéditas e sem repetição que por fim sempre gerarão o mesmo sentimento. Diferentemente, a arte é a quantidade e a variação de sentimentos que podem ser gerados através de uma mesma imagem. Ambas são temporais, mais ou menos que a outra.
          Tempo. Seria o sentimento em si ou sua possibilidade de variação? O que na vida aspira à evolução e por fim é monótono, na arte aspira a eternidade e é fugaz e passageiro. Talvez seja ele o principal inimigo do artista, que transita na caótica fronteira onde há vida, fundamental para a arte, e há arte, indispensável para si. Tudo o que dele frutifica, portanto é o limiar do real, o máximo de verdades que conseguiremos do mundo, beiradas do infinito.

           Ainda assim estamos condicionados ao real. A vida e a arte não se imitam. Elas se evitam. Cabe a nós conciliar o impossível, pois menos que isso, é placebo pra se induzir.



Por Carlos Fernando Rodrigues

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Hale-bopp (4385)

Vieste como um astro,
do espaço onde vive, entre estrelas.
Ainda que mais qualquer uma destas seja.
Tendo em vista que para tal, somente seja.

Me vi encantado pelo teu rastro,
entrei em estado contemplativo.
E tenho andado um tanto cativo dessa ideia.
Com a mente em alucinante estado, algo como apaixonado.

Quis poder arriscar uma carona na tua cauda,
onde a vida encontraria sentido em todo seu perigo.
Encontrei o teu brilho no frio distante da estrela que é você pra mim.
Ainda assim sei que a sua luz jamais se vai enquanto, aos olhos, te sigo.

Acabo por quedar aqui ainda a contemplar 
enquanto o mundo não termina de girar.
Quedo na agonizante esperança de ao fim de todos estes sempres,
no teu rastro poder te encontrar para que nada eu te prometa.


Carlos Fernando Rodrigues